Política

Convocados em abril, cuidadores aprovados em concurso da SEED denunciam descaso e cobram posse

Atraso nas nomeações paralisou sonhos e comprometeu o sustento de várias famílias

Cuidadores aprovados no concurso público da Secretaria de Estado da Educação (SEED/AP) realizado em 2022 denunciam o que chamam de “descaso e desrespeito” por parte do Governo do Amapá. Convocados oficialmente em abril de 2025, os 91 profissionais afirmam que, seis meses depois, continuam sem nomeação, sem respostas e, em muitos casos, sem fonte de renda.

A convocação ocorreu em 17 de abril, durante um evento alusivo ao mês de conscientização do autismo, no Palácio do Setentrião. O encontro, inicialmente desmobilizado pela própria equipe do governo, foi mantido após pressão dos cuidadores, e contou com a presença do governador Clécio Luís. Na ocasião, o anúncio da convocação gerou grande repercussão pública e expectativa entre os candidatos.

De acordo com Jacqueline Silva, uma das cuidadoras convocadas, o sentimento hoje é de frustração. “Ficou claro que o evento serviu apenas de mídia e marketing para o Governo do Estado. Usaram uma data tão importante para famílias atípicas e para a nossa categoria, que representa uma necessidade real nas escolas, apenas para fazer política”, afirmou.

Outra aprovada no concurso que também falou do problema foi Janmilly Andrade. Ela disse que o governador havia prometido que as nomeações ocorreriam no início do segundo semestre. Segundo ela, muitos, confiando na palavra oficial, pediram demissão de seus empregos e fizeram planos para a nova fase.

“Eu tenho 22 anos e esse seria meu primeiro concurso, meu primeiro passo para uma vida estável. Fiz planos, sonhei alto. Queria ajudar minha mãe a construir a casa dela, queria poder me sustentar com dignidade. Mas o tempo foi passando e veio a frustração. A gente se sente esquecida, desvalorizada”, desabafa.

O caso de Jacqueline também ilustra o impacto humano dessa espera. “Pedi demissão do meu trabalho, tenho filhos gêmeos de um ano e cinco meses, que tiveram crises convulsivas recentemente. Fiz uma vaquinha para pagar os exames deles. Minha mãe também está doente, e com o salário do concurso eu poderia ajudá-la. Mas agora estamos sem renda e sem perspectiva. O que está em jogo não é só uma nomeação, são vidas paradas e sonhos adiados”, lamenta.

Defasagem de cuidadores

O impasse ocorre em meio a uma grave carência de cuidadores na rede estadual de ensino.
Segundo levantamento dos próprios concursados, o Amapá tem 5.232 alunos com deficiência matriculados, mas conta com apenas 865 cuidadores, sendo 230 efetivos e 635 contratados. Pela proporção ideal (três alunos para cada cuidador), o estado deveria ter ao menos 1.744 profissionais.

Isso significa que milhares de crianças permanecem sem o apoio necessário para frequentar a escola, o que, segundo os cuidadores, representa violação de direitos garantidos pela Constituição Federal. O Ministério Público do Amapá, inclusive, acumula ações movidas por famílias que cobram o cumprimento desse direito básico.

Cobrança por transparência e resposta

Os cuidadores afirmam ter protocolado diversos requerimentos junto à Secretaria de Estado da Administração (SEAD), além de buscar diálogo direto com a secretária da pasta, sem retorno. O grupo também tem feito cobranças públicas nas redes sociais do governador e da SEAD, pedindo apenas uma resposta concreta.

“Não queremos confronto, só queremos o que é nosso por direito: a posse. Fizemos tudo o que pediram, passamos no concurso, cumprimos as regras. Agora, o governo precisa cumprir a parte dele”, diz Janmilly.

“A gente sonhou junto, acreditou junto. Agora, estamos lutando juntos para que o Governo cumpra a própria palavra”, resume Jacqueline.

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