O técnico paralímpico Marlon Gomes, reconhecido nacionalmente pelo trabalho à frente de atletas com deficiência no Amapá, afirmou ter sido afastado do cargo enquanto representava o Brasil em um campeonato mundial, no início de outubro. O treinador, que comandou a campeã mundial e medalhista paraolímpica Wanna Brito, denuncia perseguição, falta de diálogo e abandono por parte do governo estadual.
“Recebi a carta de afastamento durante o Mundial. Foi uma falta de respeito. Eu estava representando o Amapá e o Brasil, levando o nome do Estado para fora, e o governo parecia não se importar”, disse o treinador, que é servidor da Secretaria de Estado de Educação e estava cedido para a Secretaria de Desporto e Lazer (Sedel).
Segundo ele, o motivo formal do afastamento foi o término do termo de cessão com a Sedel, mas ele acredita que a decisão teve caráter pessoal e político, após críticas à falta de estrutura e apoio para as equipes. “Fui afastado porque cobrei o mínimo: passagens, materiais e planejamento. Em vez de diálogo, recebi retaliação”, afirmou.
Marlon atua no paradesporto amapaense desde 2013, e diz que mantém o projeto praticamente com recursos próprios. Segundo ele, foram investidos mais de R$ 90 mil em equipamentos de modalidades como esgrima, tiro com arco, bocha, natação e atletismo, muitos deles doados ao próprio governo. “A Sedel nunca me deu um peso, um disco, uma flecha. Tudo o que conseguimos foi com sacrifício pessoal e apoio de voluntários”, contou.
O treinador também relata que o governo não paga bolsa-atleta estadual há cinco anos e que professores da equipe trabalham sem diárias ou auxílio para viagens. “Mesmo sem estrutura, conseguimos levar o Amapá a campeonatos nacionais e mundiais. Conquistamos a inédita medalha paraolímpica. O que faltou foi reconhecimento e respeito”, criticou.
Desde o afastamento, Marlon afirma que tenta obter respostas formais da secretaria, mas não é recebido. “Durante o Mundial, disseram para eu focar na competição que resolveriam depois. Passou o evento, e ninguém mais respondeu. Parece que só lembram da gente quando precisam aparecer bem”, disse.
Apesar da situação, o técnico garante que o trabalho não vai parar. Ele segue treinando cerca de 80 atletas de forma independente e afirma que pretende recorrer ao Ministério Público para garantir o direito dos paratletas. “O governo pode me afastar, mas não vai me impedir de continuar. Esses meninos dependem desse projeto, e eu não vou abandonar ninguém.”
Atletas e familiares pedem reintegração
O caso gerou mobilização entre alunos e familiares, que pedem o retorno do treinador e denunciam censura nas redes sociais do governador Clécio Luís, onde comentários de apoio teriam sido apagados. Para o treinador, essas manifestações de carinho são reflexo do seu esforço em prol do esporte.
“Se meu trabalho não fosse importante na vida deles, eu tenho certeza que ninguém ia se manifestar. Se meu trabalho não fizesse diferença na vida deles, eu tenho certeza que eles não iam se manifestar. Eu não sou político e nem candidato. Todo esse trabalho que eu faço é para dar uma vida melhor a essas pessoas”, concluiu.



